segunda-feira, 30 de novembro de 2009

MAL'ASSOMBROS DE IPOJUCA

Ultimamente tenho me interessado mais por mitos, lendas e crendices… Ronda por ai a história de um lobisomem lá pras bandas de Santo Amaro, engenho localizado no município de Ipojuca.

Nunca acreditei muito nessas histórias, que passam gerações mexendo com imaginário da criançada, limitando seus passos através de comadres-florzinha, papas-figo, homens do saco, etc.

Fato é que o boato da fera ta tão forte em Ipojuca, que a população tem se mobilizado. Moradores do município inteiro estão organizando excursões para caçar o tal do lobisomem, que dizem ser muito rápido e ter cabelos longos, lisos e pretos como os de uma mulher. Um amigo até ironizou: “então não é lobisomem, é lobisgirl”.

Parte da fofoca, é que tem uma mulher lá em Santo Amaro pedindo pra ninguém matar o lobisomem (ou lobisgirl), pois pode ser sua filha que está amaldiçoada, por ser respondona e desobediente. Mas, que não fará mal a ninguém, só a ela mesma.


Outros dizem que na verdade o "bicho" é macho, que casou com a mãe e a irmã, e bate nelas todos os dias. Seria então amaldiçoado, saindo às ruas todas as noites de lua cheia.

Muitas pessoas já o viram, mas ninguém consegue alcançá-lo. Outras histórias se misturam com essa desse lobis quase hermafrodita, que com certeza acompanharei o final.

Enquanto isso, eu contarei algumas histórias que tenho escutado por aqui.

A primeira se passa na Usina Ipojuca.

A MULHER QUE VIRA CACHORRO

Todas as noites carregavam nas costas, o peso de um dia inteiro de trabalho.
Na volta pra casa, à sombra da lua, enfrentavam os perigos que a rota do canavial oferecia as figuras de bem que trabalhavam na usina e moravam no centro da cidade.

Sempre alerta como os escoteiros, funcionários que largavam mais tarde corriam mais riscos ao voltarem sozinhos para suas casas. Todos tinham medo de assaltos e estupros, já ocorridos algumas vezes.

Quando uma faxineira de seus trinta e cinco anos, a perder de vista qualquer cidadão comum tanto pelo deserto da noite quanto pela escuridão, vê surgir em sua frente uma enorme fera negra com um olhar doce e canino, oferecendo passagem como quem cede segurança, ficando de guarda durante o caminho de volta.

E assim foi durante um tempo, a criatura da noite passou a acompanhá-la diariamente, e quando chegavam perto de um lugar mais seguro, misteriosamente a fera sumia como se nunca tivesse estado ali. Outras pessoas viveram a mesma experiência da jovem mulher.

Todos desconfiavam de uma moçinha, de cabelos negros, que morava ali por perto e era muito benquista por todos. Pois, certa vez, um visitante desavisado trombou durante o dia com essa mesma mocinha, e tratou-lhe mal, com palavras espinhosas. Ela jurou-lhe vingar-se à noite.

Depois de algumas lapadas de cana em casa de parentes, voltava o visitante já tarde da noite pela estrada da Usina, quando um grande cachorro negro avançou em sua direção, forçando-o a escalar o poste com patas de aranha. Ali ficou até os primeiros feixes de luz solar, quando já não enxergava os caninos de marfim da criatura da noite por perto.

Desde esse dia, todos passaram a agradar a mocinha com mimos e presentes, pois à noite ela virava cachorro e assegurava o caminho de volta pra casa.
A mocinha já não mora mais no mesmo lugar, já é idosa e mora em Ponte dos Carvalhos. Rolou um boato que há pouco tempo, um tiro atingiu um cachorro que rondava à noite pela usina, justo na semana em que a mulher foi visitar alguns parentes que ainda moram por lá.

Seus vizinhos de Ponte dos Carvalhos juram de pés juntos que a viram escondendo um ferimento em seu braço esquerdo.

Giordano Bruno Gonzaga

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